Opy Saúde
A história de Joana
Por Dra. Gianna Guiotti
Joana é uma paciente de 34 anos. Ela está em tratamento comigo há cerca de treze anos. A conheci quando eu trabalhava em uma clínica de internação. Na época ela estava internada devido à primeira crise manica, com sintomas psicóticos.
Ao longo do tempo Joana foi encarando o diagnóstico e desenvolvendo o autoconhecimento necessário para aderir ao tratamento e entender como prevenir recaída de sintomas, que trazem muitos prejuízos não somente para a saúde mental, mas também nas relações pessoais e na capacidade laboral.
Ela é uma mulher muito talentosa e competente. Formou-se em direito (no tempo dela), e hoje é concursada de um tribunal.
Presenciar a evolução e crescimento dos meus pacientes mesmo tendo passado por situações tão difíceis e quadros clínicos graves é muito gratificante!
Mas esbarramos em um desafio ainda maior para o tratamento da Joana: a religião dela.
Assim como algumas outras religiões, o sintoma psíquico é encarado como sinal de fraqueza de fé, e o tratamento como algo até mesmo vergonhoso.
Joana enfrentou vários problemas de relacionamento, conflitos internos, em alguns momentos abandonou a igreja, em outros abandonou o tratamento, e atravessou um deserto que só ela sabe como foi difícil…
Mas com a ajuda da terapia e do tratamento medicamentoso, Joana entendeu que o diagnostico é parte dela, que todos nós temos o nosso corpo etéreo(alma) e também o corpo físico, que pode precisar de tratamento e que não é algo que escolhemos, simplesmente aceitamos.
E esta auto aceitação é libertadora! Como uma mulher de personalidade forte, inteligente e questionadora, fez os colegas e dirigentes espirituais refletirem sobre regras, dogmas e paradigmas que só fazem mal para as pessoas que possuem algum diagnostico em saúde mental e que precisam de tratamento para viverem bem.
Hoje ela fala com orgulho que os amigos da religião se espelham nela e a aceitam como ela é, e também procuram ajuda profissional de médicos e psicólogos quando também precisam.
Nenhuma religião ou condição deve servir para oprimir um diagnóstico, ou opção de gênero ou sexual. Desde que a pessoa esteja segura que esta escolha faz parte do autoconhecimento que traz evolução e cura para a saúde mental (e para a alma).