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Aumento da ansiedade em crianças e adolescentes: o que fazer?

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Dra. Gianna Guiotti

Medica Psiquiatra

CRM DF - 15231

Por Dra. Gianna Guiotti

De acordo com uma pesquisa recente do Datafolha, com dados da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) do SUS, pela primeira vez na história, os registros de ansiedade em crianças e adolescentes superam os de adultos.

Essa tendência, observada entre 2013 e 2023, reflete mudanças significativas na saúde mental dos mais jovens. Para quem tem filhos nesta idade, e também para os profissionais que atuam em saúde mental, estes dados refletem o que estamos presenciando há alguns anos em nosso dia a dia.

Causas do aumento de casos de ansiedade em crianças e adolescentes

  • Redes sociais e uso abusivo de mídias digitais: Sem dúvida, são as grandes responsáveis pela realidade desta estatística. Para quem quer se informar melhor, vale a pena o livro super atual “A geração ansiosa”, de Jonathan Haidt. A exposição e comparação nas redes sociais, autoestima formada com base em curtidas, agressões e linchamentos virtuais, cyberbullying, jogos online com conteúdo inadequado para a idade… são causas muito comuns de transtornos de ansiedade nesta faixa etária.

  • Isolamento social na pandemia: Perdas e mudanças nos contextos familiares, econômicos e sociais também foram muito impactantes nos últimos anos, além da dificuldade de retornar ao meio social após o período da pandemia.

  • Sobrecarga de conteúdos acadêmicos: Preocupação com o desempenho escolar.

  • Excesso de atividades extras no dia a dia.

  • Conflitos e mudanças na dinâmica familiar.

  • Preocupação com aparência e estética nas meninas: É assustador ver casos no consultório de crianças de 7, 8 anos preocupadas em não engordar!

  • Falta de interação real com os pares: Poucas atividades de lazer em ambientes naturais e atividades físicas (muito importante para o desenvolvimento).

  • Alimentação inadequada: Excesso de aditivos e industrializados.

O preocupante excesso de medicações e intervenções inadequadas

Diante deste cenário, é preocupante ver as intervenções inadequadas nesta faixa etária e o excesso de medicação prescrita por outros médicos que tenho visto aqui no consultório! As intervenções na infância e adolescência sempre devem priorizar atuarmos nas causas e mudar algumas coisas na rotina, na dinâmica da casa, mudar de escola, melhorar alguns hábitos da família… ao invés de medicar. Na grande maioria dos casos, estas intervenções são suficientes, mas os medicamentos, quando bem indicados, são muito importantes e aliados no processo de desenvolvimento, quando há indicação.

O processo de poda neural ou maturação cerebral acontece até os 25 anos, e, durante este período, identificar e tratar um transtorno é crucial para que este não atrapalhe o desenvolvimento e se perpetue ao longo da vida.

O que podemos fazer?

  • Conheça o temperamento do seu filho: Algumas crianças e adolescentes têm temperamento com medo excessivo, com mais necessidade de controle e planejamento, e com pouca flexibilidade para lidar com mudanças. Estas características de temperamento tendem a apresentar mais riscos de transtornos de ansiedade.

  • Converse sempre e tente “sondar” as fontes de preocupações: Os pensamentos e sentimentos que podem estar gerando sintomas.

  • Cuide da rotina e dos hábitos sempre: Controle o conteúdo e tempo das redes sociais, e a classificação indicativa de jogos e programas. Procure conhecer os “influencers” e “youtubers” e os programas que eles gostam. Participe e transmita senso crítico e os valores da sua família. Mas lembre-se: controlar o tempo de telas é fundamental! Siga a recomendação da SBP sobre o tempo de telas em cada idade. Mantenha uma rotina com esportes, tempo de descanso e sono, e alimentação saudável. Programas ao ar livre e em contato com a natureza ajudam muito na saúde física e mental!

Adotar estas medidas no dia a dia pode evitar muitos transtornos que prejudicam o desenvolvimento dos pequenos. Cuidado com o excesso e uso errado de medicação! Mudar a rotina e os fatores que estão causando os sintomas é fundamental! Procure ajuda de um médico psiquiatra especialista em infância e adolescência, para avaliar qual o melhor tratamento e intervenção adequados.

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