Janela do Consultório

Quem já teve a oportunidade de conhecer a Opysaude pessoalmente, já viu esta “janela” linda que tem uma simbologia única:
A luz do sol entrando pela arvore representa muitas situações das pessoas que vem aqui: saber que a luz e o sol estão sempre presentes em nossas vidas, ainda que tenhamos que lidar e encarar as sombras em alguns momentos.
Esta “janela” já ouviu muitas histórias, tramas, dramas, traumas e superações… e aqui você pode espiar algumas destas histórias, e quem sabe, inspirar-se nelas para mudar a sua própria história.

Venha e sinta-se à vontade para espiar conosco.

Você também já viveu um luto?

A “Janela do Consultório” hoje compartilha com vocês a história de uma medica, a Dra. G, que passou pelo luto recente do pai.

O luto é um processo natural diante da experiência de lidar com a perda de alguém ou algo significativo na vida de uma pessoa. Além da tristeza, e estão presentes várias outras emoções e reações, como raiva, culpa, negação e aceitação, que podem variar em intensidade e duração.

O processo do luto varia de pessoa para pessoa e pode ser influenciado por fatores como cultura, crenças religiosas, histórico familiar e personalidade.

No caso da Dra. G, o fato de conhecer o processo natural e expectativa de vida da doença de base do pai, influenciou na forma como ela conseguiu lidar com o luto.

Você conhece as fases do luto? A psicóloga americana Elisabeth Ross, publicou em 1969 o livro “Sobre a morte e o morrer”, cuja teoria é utilizada até hoje na psicologia, descreve o luto em cinco estágios:  negação, raiva, barganha, depressão e aceitação.

Estes estágios nem sempre aparecem nesta ordem, e podem aparecer em momentos diferentes. Reconhecer estes estágios pode ajudar a lidar com a perda de alguém que amamos.

Negação

A negação é um mecanismo de defesa instintivo da nossa mente para lidar com o choque da perda. Pensamentos como “isso não está acontecendo, deve haver algum engano” são comuns nesta fase.

Raiva

A raiva pode acontecer quando a pessoa começa a aceitar a realidade e sente-se injustiçada (porque isso aconteceu comigo?). Esta emoção pode ser direcionada a si mesmo, à pessoa que partiu, amigos, familiares e médicos.

Canalizar esta emoção desabafando com alguém, fazendo exercícios, escrevendo, permite dissipar este sentimento aos poucos.

Barganha

Marcada por um desejo de aliviar a dor da perda, nesta fase, podem vir pensamentos do tipo: se eu tivesse feito algo, se eu for uma pessoa melhor, posso evitar que outras perdas ocorram.

É uma tentativa de controlar acontecimentos e situações que nem sempre estão sob nosso controle.

Depressão

Esta fase é o momento em que a pessoa sente de fato a ausência, e podem vir sentimentos de desanimo, choro, isolamento, alterações de sono, apetite e concentração. Buscar ajuda e apoio de familiares, amigos e profissionais é muito importante nesta fase.

Aceitação

Neste momento, a pessoa começa a se adaptar à nova realidade sem a figura da pessoa que perdeu, criando novos objetivos, vínculos e interesses, encontrando a resiliência e a paz para lidar com a ausência.

A Dra. G. vem vivendo as fases do luto desde o diagnóstico da cardiopatia do pai, feito há alguns anos, pelo conhecimento da história natural da doença.

A negação veio em muitos momentos, inclusive achando que os suplementos que sempre prescrevia para o pai poderiam evitar a partida dele: Omega 3, Vitamina K, Coenzima Q10, etc. (dentro dela ela tem certeza que eles prolongaram ou melhoraram a vida dele).

A raiva e a barganha também estiveram presentes, em relação a ela mesma, e as vezes em relação ao pai, pelas escolhas que ele fazia, e que poderiam afetar negativamente o diagnóstico de base (como se ela pudesse decidir por ele, e vencer o poder de escolha dele e a hierarquia que existia entre os dois)

Desde a internação do pai, quase dois meses antes de sua perda, estas fases já estavam acontecendo dentro dela, por estar diante de um diagnostico tão grave e delicado.

A rotina de cuidado com ela mesma e com os pacientes neste período, foi dividida com a rotina de administrar o cuidado com o pai no hospital.

Quase todos os dias que chegava ao hospital, o pai, altruísta como sempre, perguntava se ela continuava a tocar sua rotina e sua vida, e manifestava preocupação com ela e com as netas.

Nos momentos em que ele fraquejava e mostrava o quanto estava difícil estar naquela situação, reclamava da ausência dela. Mal sabia ele que, mesmo quando não podia estar presente, ela administrava os sinais vitais, balanço hídrico e evolução clinica à distância, com auxilio das cuidadoras.

A força dele e a vontade de viver sempre foram surpreendentes e ter passado por tudo que ele passou neste período de internação (duas pneumonias, exames, intervenções cada vez mais invasivas), devolvia uma esperança (ou negação) de que ele não iria partir.

Mas aos poucos ela foi vendo o coração, pulmões, rins, cérebro, e sistema imunológico sinalizando que tudo tem um fim, que eles já tinham cumprido a função deles e permitiram ao pai ter construído uma história muito bonita nesta vida.

O luto é uma jornada única, que cada indivíduo enfrenta de maneira diferente, mas é essencial passar por ele para o processo de cura e readaptação à nova realidade após a perda.

Viver o luto talvez seja sentir o amor que algumas pessoas nos dão e que transforma a gente, e entender que estar vivo é a oportunidade de fazer o mesmo com outras pessoas…

Texto em homenagem à Israel Testa (in memorian)

“Você nos ensinou que ser feliz, agradecer sempre, e fazer o bem são as melhores formas de amar”

TEA e TOD: Uma combinação ainda mais desafiadora

Neste mês da conscientização do TEA, trago um caso clinico de um jovem paciente com o diagnóstico de Transtorno do Espectro Autista (nível 1), e Transtorno Opositor Desafiador. As duas condições tornam ainda mais difícil para o paciente, a família e o profissional de saúde mental. 

Joao está em acompanhamento aqui na Opysaude há três anos. Atualmente está com 14 anos. Desde os 8 anos de idade começou a apresentar dificuldades nas relações sociais na escola e também de aprendizagem.

Na época, os pais buscaram avaliação de profissionais de saúde mental, porem tiveram grande resistência em aceitar o diagnóstico.

É muito importante que os pais encarem de frente uma característica dos filhos que pode influenciar no desenvolvimento deles, e requer uma atenção e cuidados especiais. Negar a existência de um transtorno só prejudica e atrapalha o desenvolvimento.

Joao foi tentando se adaptar à realidade da escola e do meio social, mesmo com as particularidades dos transtornos de base:

No caso do Autismo, a dificuldade de comunicação e interesses restritos,

E como características do TOD: Irritabilidade, ressentimento, dificuldade de expressar emoções, agitação, dificuldade de entender e aceitar regras.

Com a chegada da puberdade e as mudanças cognitivas, hormonais e emocionais desta fase, os sintomas intensificaram-se, e Joao começou a ter vários problemas de relacionamento, aprendizagem e pequenos delitos. E ainda começou a desenvolver sintomas depressivos, pelas dificuldades e fracassos que vinha acumulando.

E como melhorar e intervir da melhor forma neste cenário?

  • Através de tratamento medicamentoso assertivo, visando amenizar e combater os sintomas mais disfuncionais (impulsividade, desregulação emocional, ansiedade…)
  • Psicoterapia individual para estimular as potencialidades e superar as limitações e fraquezas, através de autoconhecimento e educação emocional.
  • Acolhimento, orientação e instrumentalização familiar, através de psicoterapia e muitas conversas durante as consultas.

A rede de apoio familiar e a colaboração da escola neste processo é crucial para a melhora dos sintomas e o desenvolvimento saudável de Joao.

Joao está conseguindo ser e entender quem ele é (somente nos últimos meses entendeu as características do TEA), e tem encontrado talento nas artes, esporte(lutas), e recuperou a autoestima e senso de pertencimento. Neste mês vai grafitar um muro da escola para mostrar seu talento.

E assim vou acompanhando o desenvolvimento de Joao e de outros tantos pacientes com esta condição, curiosa para saber o que ele vai trazer para o futuro do nosso planeta.

A história de Sophia

Sophia é uma jovem que acaba de completar 18 anos. Está em tratamento aqui na Opysaude há dois anos.

Os pais relataram que precisou ser internada em uma clínica por um mês, por tentativa de suicídio, antes de começar o tratamento comigo.

Mesmo após a internação, Sophia não apresentou melhora, e os pais estavam muito angustiados e preocupados.

O falecimento de uma amiga próxima parece ter desencadeado os sintomas depressivos, e também um histórico familiar de transtorno mental aumentava o risco de ter um transtorno mental.

Durante estes dois anos acompanhando-a, já passamos (eu, ela e família) por momentos muito difíceis.

Teve uma época que percebi que a escola era um fator de estresse importante, e pedi aos pais que a afastassem da escola.

Foi uma decisão muito difícil para ela e para os pais, mas naquele momento foi muito importante para Sophia se recuperar. Ponderamos que a vida e a recuperação de Sophia eram mais importantes.

Quando estamos deprimidos, não conseguimos lidar com estressores e desafios que podem ser bem mais simples quando estamos bem.

A dificuldade de lidar com as demandas escolares e ter um desempenho acadêmico adequado é um cenário muito comum em adolescentes deprimidos. Nem todos precisam afastar-se da escola, mas é importante perceber quando é necessário e priorizar a saúde mental.

O trabalho em conjunto da própria Sophia, dos pais, do medico e da terapia, trouxe melhora importante e remissão dos sintomas depressivos.

Sophia continua o tratamento, está no ultimo ano do ensino médio, é uma menina inteligente e decidida, de temperamento forte e com ideologias que o mundo precisa muito.

O estresse decorrente da enxurrada de conteúdos do ultimo ano fazem parte da vida dela, como uma adolescente normal, mas com o tratamento ela está bem mais fortalecida para enfrentar estas demandas.

A melhora da depressão também traz uma recuperação na capacidade de tomar decisão: e agora ela está escolhendo em que faculdade estudar nos EUA, pais onde mora parte da família dela.

Sophia tem amigos, tem momentos de lazer, e voltou a ser alguém que tem um futuro incrível pela frente. A depressão vai fazer parte da história dela como algo que a fortaleceu e surpreendeu a ela mesma como pode ser forte, e que o tratamento foi fundamental neste processo.

Fico feliz em fazer parte desta história e estou curiosa em ver a pessoa que ela vai se tornar.

A história de Joana

Joana é uma paciente de 34 anos. Ela está em tratamento comigo há cerca de treze anos. A conheci quando eu trabalhava em uma clínica de internação. Na época ela estava internada devido à primeira crise manica, com sintomas psicóticos.

Ao longo do tempo Joana foi encarando o diagnóstico e desenvolvendo o autoconhecimento necessário para aderir ao tratamento e entender como prevenir recaída de sintomas, que trazem muitos prejuízos não somente para a saúde mental, mas também nas relações pessoais e na capacidade laboral.

Ela é uma mulher muito talentosa e competente. Formou-se em direito (no tempo dela), e hoje é concursada de um tribunal.

Presenciar a evolução e crescimento dos meus pacientes mesmo tendo passado por situações tão difíceis e quadros clínicos graves é muito gratificante!

Mas esbarramos em um desafio ainda maior para o tratamento da Joana: a religião dela.

Assim como algumas outras religiões, o sintoma psíquico é encarado como sinal de fraqueza de fé, e o tratamento como algo até mesmo vergonhoso.

Joana enfrentou vários problemas de relacionamento, conflitos internos, em alguns momentos abandonou a igreja, em outros abandonou o tratamento, e atravessou um deserto que só ela sabe como foi difícil…

Mas com a ajuda da terapia e do tratamento medicamentoso, Joana entendeu que o diagnostico é parte dela, que todos nós temos o nosso corpo etéreo(alma) e também o corpo físico, que pode precisar de tratamento e que não é algo que escolhemos, simplesmente aceitamos.

E esta auto aceitação é libertadora! Como uma mulher de personalidade forte, inteligente e questionadora, fez os colegas e dirigentes espirituais refletirem sobre regras, dogmas e paradigmas que só fazem mal para as pessoas que possuem algum diagnostico em saúde mental e que precisam de tratamento para viverem bem.

Hoje ela fala com orgulho que os amigos da religião se espelham nela e a aceitam como ela é, e também procuram ajuda profissional de médicos e psicólogos quando também precisam.

Nenhuma religião ou condição deve servir para oprimir um diagnóstico, ou opção de gênero ou sexual. Desde que a pessoa esteja segura que esta escolha faz parte do autoconhecimento que traz evolução e cura para a saúde mental (e para a alma).

 
 
 
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