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Lugar de psicodélicos é no consultório e nos centros de pesquisa
Por Dra. Gianna Guiotti
O crescimento dos estudos e pesquisas com novas substâncias de efeito psicofarmacológico é promissor e animador em saúde mental nos últimos tempos.
Porém precisamos ficar atentos aos erros do passado que levaram à proibição dos psicodélicos: o uso irresponsável e fora do contexto clínico por parte até mesmo de cientistas renomados da época.
A complexidade dos fatores envolvidos na gênese dos transtornos mentais, e os desafios impostos pela pandemia e pelo pós-pandemia, fazem as pessoas buscarem novas soluções e alternativas para o alívio dos sintomas. Por isso é preciso ter os pés no chão e cautela sempre.
Muitas vezes um transtorno mental envolve fatores diversos, além dos farmacológicos, para a resolução e cura: terapia individual e familiar, mudanças de contexto que levam ao adoecimento, e tomada de decisões necessárias, além de claro, conhecimento psicofarmacológico adequado da substância que estamos usando e qual a finalidade.
O uso clínico deve ser responsável e baseado nos estudos e evidencias já estabelecidas, e cabe a nós, psiquiatras e profissionais de saúde mental, orientarmos os pacientes para que tenham expectativas realistas.
Um exemplo do uso fantasioso e irresponsável de psicodélicos é a minissérie da Amazon, “Nine Perfect Stranges”.
A história é ambientada em um centro terapêutico luxuoso em meio à natureza na California, mas o enredo vai mostrando a irresponsabilidade com que é empregada estas substâncias, além de expectativas irreais (comunicação com os mortos, etc).
Algumas substâncias já têm estudos satisfatórios e com ótimas respostas clínicas, como a Cetamina, no tratamento da depressão grave e resistente.
Os derivados da Cannabis também têm efeitos muito interessantes em algumas patologias, já demonstrados por estudos. Contudo, ainda se faz necessário incentivar e desenvolver mais estudos na área.A Psiloscibina, substância encontrada em uma espécie de cogumelo, também vem sendo estudada e aplicada no tratamento de depressão e algumas dependências químicas. Porem com necessidade de novos estudos e pesquisas até a aplicabilidade clínica. O MDMA também já tem estudos clínicos avançados em outros países e também no Brasil.O uso responsável é crucial para desfechos clínicos favoráveis e adequados, para que a ciência e os profissionais não cometam o mesmo erro do século passado. Uso medicinal é diferente de uso recreacional.