O trabalho também pode ser fonte de traumas?

Um fator de adoecimento importante que meus pacientes trazem no dia a dia, é a relação com o trabalho e todas as demandas desafiadoras que ele pode trazer.

No ambiente de trabalho, lidamos com pessoas diferentes, nas quais estamos juntos grande parte do nosso dia, e isso pode trazer problemas de convívio e relacionamento que podem afetar muito a nossa saúde mental.

Diferenças entre temperamentos, valores, personalidades, e formas de encarar os desafios do trabalho, podem ser gratificantes e ate mesmo contribuir para o nosso amadurecimento e crescimento.

Ter empatia, tolerância, respeito, e tentar entender a forma de funcionamento dos outros é algo que nos fortalece como seres humanos, e nos dá habilidades para o convívio social, que é um fator importante para saúde mental e emocional.

Porém não é incomum nos depararmos com pessoas que se valem da posição e poder que ocupam para agirem de forma ate mesmo com grau de crueldade comparado aos piores vilões da Marvel.

O estrago emocional em quem está na mira leva à sintomas de depressão, ansiedade e sintomas comparáveis ao Transtorno de Estresse Pós Traumático.

Embora um dos critérios diagnósticos para o TEPT seja uma exposição ou presenciar um evento potencialmente ameaçador a vida, frequentemente vejo pacientes que vivenciam os fatos do ambiente laboral como um verdadeiro trauma.

Isso porque estamos falando do meio de subsistência da pessoa, e ameaçar perder um cargo ou emprego pode ser comparável à ameaça em relação à própria vida (esta é uma conclusão minha, após anos presenciando frequentemente o que meus pacientes vivenciam).

Além da questão dos relacionamentos no ambiente laboral, muitas vezes temos o sentimento de não conseguir mais ter o mesmo desempenho, e, as funções que antes eram simples de executar, tornam-se pesadas e difíceis.

Isso pode ser um sinal que algo não vai bem com sua saúde psíquica e emocional.

Outros sinais que temos que ficar atentos são:

• Dificuldade de desligar-se dos problemas do trabalho, e ficar pensando neles mesmo quando deveríamos estar descansando ou nos momentos de lazer;
• Insônia, dificuldade de concentração,
• Crises de ansiedade, sensação de aperto ou angustia no peito no caminho para o trabalho ou ao lembrar de algo relacionado ao trabalho,
• Sentimento de distanciamento ou não se envolver ou se importar mais como antes nos problemas e fatos do trabalho.

Diante deste cenário emocional, é preciso procurar ajuda profissional, e avaliar se não estamos diante de um transtorno mental que precisa ser acompanhado.

Mas como ter uma relação equilibrada com o trabalho e evitar que estes problemas apareçam? Ou recuperar o equilíbrio diante de um problema já instalado?

Manter uma rotina saudável seguindo os pilares da medicina do estilo de vida: atividade física, conexão social, relaxamento, alimentação saudável, já é uma boa receita de manter uma relação equilibrada com o trabalho.

Mesmo que o trabalho não traga tanto sentido, a percepção de que ele nos auxilia materialmente a manter nossos hobbies, experiencias, e objetivos de vida já pode ser gratificante.

É importante lembrar que todos passamos por momentos mais difíceis na vida pessoal, e ter uma atitude de tolerância com a gente, nos exigindo menos em relação ao trabalho nestes períodos, pode ser uma boa estratégia para uma relação saudável com o trabalho.

E quando parece haver uma necessidade de mudança de onde estamos ou na carreira que escolhemos?

É importante refletir sobre o sentido do trabalho em nossas vidas, se ele atende ao nosso proposito e ideologia, e a marca que queremos deixar para nossa sociedade.

Um auto reconhecimento (autoconhecimento, auto eficácia) da carreira que estamos construindo, e se estamos no caminho das necessidades da nossa alma, é um exercício interessante para avaliar se estamos fazendo as escolhas certas.

Manter uma relação saudável com o trabalho exige planejamento, sabedoria, disciplina, mas é muito gratificante e fundamental para nossa saúde mental.