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TDAH: Observando se a desatenção pode ser um transtorno

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Dra. Gianna Guiotti

Medica Psiquiatra

CRM DF - 15231

Por Dra. Gianna Guiotti

Algumas condições clinicas em saúde mental podem cursar com desatenção, e a mais conhecida de todas é o TDAH, o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Antigamente um dos critérios para o diagnostico era o aparecimento dos sintomas na primeira infância (antes dos 6,7 anos), mas este critério não é mais exclusão do diagnóstico; muitos casos são diagnosticados na fase adulta.

Afinal, como saber se a desatenção é um transtorno?

O para a pessoa perceber se a sua desatenção pode ser um TDAH muitas vezes é complexo. Em graus mais leves (e geralmente quando existe somente o componente desatenção do transtorno), os sintomas podem ser compensados e mascarados por outras características pessoais, e a pessoa vai se acostumando e criando formas para lidar com eles (mas quase sempre acumula prejuízos ao longo da vida).

 

Internet, smartphone e o fenômeno das redes sociais

Há anos o uso da internet tem crescido vertiginosamente. No ano passado a empresa de pesquisas ComScore revelou, em estudo, que o Brasil é o o 3º país que mais consome redes sociais no mundo. Até o ano passado mais de 131 milhões de pessoas já mantinham conta ativa.

Como especialista, posso dizer que o uso frequente de mídias digitais e redes sociais tem alterado as nossas redes neurais, e em muitos casos, prejudicando a nossa capacidade de concentração e atenção.

Outros casos envolvendo desatenção

Além das redes sociais, posso citar outras condições que vem acometendo a cognição de muitas pessoas. A síndrome inflamatória pós-covid, conhecida como “Brain fog”, que é uma realidade clinica pós pandemia, por exemplo, também pode interferir na capacidade de atenção e concentração (porem possível de remissão com tratamentos e hábitos que ajudem a desinflamar o sistema nervoso central).

Gosto de fazer uma reflexão sociológica também sobre este aumento de casos de desatenção e prejuízo na memória. Vivemos em uma era em que o cérebro e a capacidade intelectual viraram o principal fator de produção de riqueza (os desenvolvedores de inteligência artificial, etc). A despeito de outros produtos do passado: bens naturais, força de trabalho braçal, etc.

Pra quem tiver curiosidade sobre este assunto, recomendo assistir o documentário chamado “Working”, produzido por Barack Obama.

Lembro que, no início da minha carreira profissional, quando era médica de família em uma aldeia indígena no litoral de São Paulo, concedi uma entrevista para o programa Globo Repórter sobre insônia e estresse. Na ocasião, o repórter achou engraçado quando relatei que não haviam entre os índios casos de ansiedade, estresse, e problemas de sono.

Será que nosso cérebro e nossa mente estão preparados para o tanto que estamos exigindo deles? E quando desconfiar de TDAH?

Os principais fatores de risco são: história familiar, alterações genéticas (genes que modulam neurotransmissores podem estar alterados), prematuridade, uso de drogas na gestação, presença de outros transtornos.

E quais são as alterações neurológicas e características da desatenção e hiperatividade no TDAH:

As chamadas “funções executivas cerebrais” são controladas pelo córtex frontal, região onde há uma alteração na pessoa que tem o TDAH.

Estas funções são consideradas complexas, e são responsáveis por:

  • Controlar impulsos,
  • Persistir em tarefas tediosas, mas importantes,
  • Resolver problemas e tomar decisões,
  • Fazer planos e ajusta-los quando necessário
  • Reconhecer e corrigir erros
  • Definir objetivos e monitorar o progresso
  • Flexibilidade cognitiva
  • Memória de trabalho (visual, espacial e verbal) e atenção.

 

Com tantas funções importantes, que podem estar alteradas em graus variados na pessoa com este transtorno, conseguimos imaginar os prejuízos decorrentes da falta de tratamento (ou tratamento inadequado).

Saber quando e como tratar (através de terapias, suplementos e medicamentos) é muito importante. Nem sempre quando fazemos o diagnostico indicamos tratamento medicamento. É fundamental avaliar os prejuízos.

Vamos falar mais sobre eles?

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